[N.103 | 2024]

Canção da manhã

Sylvia Plath

O amor deu corda em você feito um relógio de ouro.
A enfermeira bateu nos seus pezinhos e você veio chorando
Ocupar um lugar no mundo.

Nossas vozes comemoram sua chegada. Nova estátua.
Num museu frio, sua nudez
Ameaça nossa segurança. Ficamos ao redor, como paredes
vazias.

Não sou sua mãe mais
Do que a nuvem polindo um espelho para refletir, nas mãos
Do vento, sua própria e lenta extinção.

A noite toda seu hálito de mariposa
Tremula em meio às rosas murchas. Acordo e ouço:
Um mar ao longe canta no meu ouvido.

Um choro. Saio da cama tropeçando, vaca pesada e florida
Numa camisola vitoriana.
Sua boca se abre, limpa como a de um gato. O vidro da
janela
Ilumina e engole as estrelas apagadas. Enquanto você ensaia
Um punhado de sons;
Vogais límpidas voam feito balões.