A mulher escreve um diário
Escreve mazelas e paixões
Quase fala do mesmo
Em seu diário escreve
o que precisa esquecer
o que se precisa lembrar
Assim a palavra estampa
um lugar tão desnudo quanto ela
Nessas páginas revela segredos
que esconde de si mesma
Constatações sutis
É preciso uma lente de aumento ou uma película turva
depende da angústia que se pode suportar
e da lucidez com que se decide seguir
Esse corpo de página nu
se adorna à medida que desvela sua própria pele
compartilha com ela uma homeostase rara
Essa peculiaridade de que a palavra goza
porque pela escrita se pode esvaziar
e pelo “ex”-vazio ela novamente se ressignifica
talvez seja um pouco menos vazio do que antes