[N.130 | 2025]

Segundo domingo de maio

Eliane Marta Santos Teixeira Lopes

No domingo,
de presente,
eu quero
uma mãe.

Que seja loura
que seus olhos
sejam verdesinzas,
que seu nariz
seja nem bonito, nem feio.

Que sua boca mantenha
o hálito dos pêssegos
da infância
e os estragos da pobreza.

Que seu corpo não seja de velha
e mantenha o aplomb e a elegância
da juventude sapeca.

Que seus braços retribuam e
abracem sempre
causas e doenças,
gentilezas e convites para danças.

Que se levante,
depois do café na cama,
já calçando salto alto,
e, ao sair do banho,
esteja pronta e arrumada
de baton et rouge,
para ir para a repartição.

Que saiba fazer rissoles,
sanduíche colorido, bombinhas de camarão,
apfelstrudel.

Que costure vestidinhos e camisolas
para o Natal e a Páscoa,
e renda francesa cor de cereja
para a minha festa.

Que brigue, e me defenda,
sempre que souber ou imaginar
que fui injustiçada.

E que depois,
bem depois,
usufrua de seu direito de estar enjoada
da política e outros assuntos que tanto amava.

Seu perfume favorito era Ma griffe de Carven.

Minha mãe nasceu dia 20 de outubro de 1911 em Barbacena.
Mudou-se para BH em 1930, morou e trabalhou na pensão dos seus pais
na rua da Bahia 1000.
Morreu de coração fraco de tanto batalhar contra a asma e pelas vidas que a circundavam em…
Quando mesmo?