No domingo,
de presente,
eu quero
uma mãe.
Que seja loura
que seus olhos
sejam verdesinzas,
que seu nariz
seja nem bonito, nem feio.
Que sua boca mantenha
o hálito dos pêssegos
da infância
e os estragos da pobreza.
Que seu corpo não seja de velha
e mantenha o aplomb e a elegância
da juventude sapeca.
Que seus braços retribuam e
abracem sempre
causas e doenças,
gentilezas e convites para danças.
Que se levante,
depois do café na cama,
já calçando salto alto,
e, ao sair do banho,
esteja pronta e arrumada
de baton et rouge,
para ir para a repartição.
Que saiba fazer rissoles,
sanduíche colorido, bombinhas de camarão,
apfelstrudel.
Que costure vestidinhos e camisolas
para o Natal e a Páscoa,
e renda francesa cor de cereja
para a minha festa.
Que brigue, e me defenda,
sempre que souber ou imaginar
que fui injustiçada.
E que depois,
bem depois,
usufrua de seu direito de estar enjoada
da política e outros assuntos que tanto amava.
Seu perfume favorito era Ma griffe de Carven.
Minha mãe nasceu dia 20 de outubro de 1911 em Barbacena.
Mudou-se para BH em 1930, morou e trabalhou na pensão dos seus pais
na rua da Bahia 1000.
Morreu de coração fraco de tanto batalhar contra a asma e pelas vidas que a circundavam em…
Quando mesmo?