[N.139 | 2025]

Frio o bastante para nevar [fragmento]

Jessica Au

Eu me dei conta de que, com a idade que eu tinha agora, minha mãe já fizera uma nova vida para si mesma em um novo país. Ela já havia se tornado mãe de um novo bebê e provavelmente era capaz de contar em uma só mão o número de vezes que retornaria a Hong Kong para ver sua família. Tentei, em vão, imaginar seus primeiros meses lá. Ela sentiu saudade de casa? Ficou impressionada com as ruas, as casas de tijolos e de madeira, tão diferentes do lugar em que crescera? Ficou extenuada não pelas grandes diferenças, mas, como muitas vezes acontece, por incontáveis diferenças menores — os supermercados sempre tão bem abastecidos, mas onde não se podia comprar macarrão transparente, ou o tipo certo de arroz; as casas em que o mingau era algo simples e sem gosto, feito com aveia e leite, em vez de cebolinha em fatias finas, brotos de bambu e ovos pretos, de cem anos; as ruas onde as pessoas gritavam dos carros enquanto ela atravessava, por motivos que ainda não conseguia entender; o caixa do banco incapaz de entender seu inglês colonial quase perfeito? Depois de tomarmos o chá, entramos em uma antiga casa de banho comunitária. O amplo espaço era separado por uma parede baixa, metade para mulheres, outra para homens. As banheiras eram fundas e quadradas, cobertas de azulejos azul-claros. Ao longo das paredes, havia uma série de torneiras e espelhos, onde, expliquei, sentadas em banquinhos baixos, as mulheres se lavavam antes de entrar nos espaços coletivos maiores. No alto, um enorme mural com céu azul, montanhas, vegetação, nuvens e um grande lago azul, tão bonito e simples quanto uma ilustração de livro infantil. Minha mãe se esticou para olhar, inclinou o pescoço e deu um suspiro, como se não fosse uma parede pintada, e sim uma vista ampla e agradável. Tirei uma foto do mural, suas cores me lembravam os cartazes usados para promover eventos esportivos como as Olimpíadas nos anos 1960 e 1970, depois fotografei os azulejos azuis, e perguntei se ela gostaria de ir a uma das casas de banho de Tóquio comigo. Contei que tinha estado em uma na minha última viagem e gostara da experiência, todas as mulheres e crianças tomando banho juntas. Ela disse que não tinha trazido maiô, e eu respondi que não havia problema, na verdade, maiôs não eram permitidos. Minha mãe sorriu e balançou a cabeça. Pensei nas casas de banho, em como os bebês e as crianças mais novas ficavam agarrados às mães quando elas os lavavam, derramando água em suas cabeças enquanto usavam a outra mão para proteger seus olhos, em como ainda não se sentiam de fato separados, mas sim parte do mesmo corpo, do mesmo espírito. Eu sabia que minha irmã e eu sentimos o mesmo em uma época. Nessa viagem, minha mãe quase sempre estava vestida e pronta antes de mim. Se por acaso eu acordasse e a visse saindo da cama de pijama, ela ia ao banheiro se trocar no mesmo instante, e fazia uma pequena reverência, à maneira japonesa, antes de fechar a porta.