[N.195 | 2025]

Ary 

Janaú

o futuro cabia nas minhas mãos
ele andava atrás de mim
o passado ia na frente
desenhando dilúvios

as rochas testemunhando
o desenrolar dos milênios
l e n t a m e n te
o horizonte com todos os tipos
de aves migrando
para o despertar
que não é nada
nada de novo

milhares
de seres humanos
árvores humanas
bichos humanos
águas humanas

pessoas

gestadas em terra úmida
em eclipses de
sol y lua
da observação
fiz meu tema de existência
desenvolvi cartografias
queimando-as
uma após uma
pois mapas já afundaram

muitas civilizações

rápido é o mergulho
da águia e sua sabedoria
de lince
da soberana árvore
a Samaumeira
aviões cruzando desertos
os encantados desfilando
cores pelos leitos amazônicos

no raiar do dia de amanhã
nasceram centenas
de bebês guerreiros
nas palmas das suas mãos
nasciam colibris
o céu me enchia o peito
enquanto novas serras submersas
se desenhavam em Abya Yala
sem final

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Minha avó
brotou em mim
ontem à noite
y hoje revelei
ao espelho
a nova ruga
que habitava
aqui

Com ela
nasceu em mim
a fuga
do ocidente
da alma

Eu rompi essa
fronteira
para chamá-la
mar
inaugurei um oceano
partido
fiz um barco cantando
a madeira que o encarnava
y rumei para o norte
a minha linha do equador
onde não há latitudes
suficientes
para segurar
bandeiras
ou países

Ali fiz uma revolução
recrutei as folhas
do tempo
y da maresia do ventre
fiz uma torrente
regurgitar
memória
y cantei todas
todas as canções
dos meu ancestrais

Ilhas
são a mais nova invenção
dos encantados
ancoro em cada uma
serpentes
o legado
de mis abuelitas