curadora convidada
Fabiana Carneiro da Silva

Estão reunidos nesta curadoria textos de quinze mulheres-mãe-negras, convidadas a publicar no site do projeto ELAS. Parte-se da constatação que a maternidade negra segue sub-representada na discursividade nacional (na literatura e para além dela), ainda que haja relevante produção literária de autoria mulheres negras desde, pelo menos, o século XIX. A proposta é dar a ver a riqueza e pluralidade das transfigurações do “ser mãe” pelas escritoras convidadas. As mulheres aqui presentes apontam também para muitas outras que concebem a maternagem como questão, suspensão e atualização de um percurso ancestral.

  • Com-a-maré

    Fabiana Carneiro da Silva

    a maré subiu, sobe maré
    a maré desceu, desce maré
    A despeito de constar como tópica relevante na produção literária de mulheres negras desde o século XIX, haja vista a obra da precursora  Maria Firmina dos Reis, a maternidade negra segue sub-representada na discursividade nacional […]

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  • mãe/solo/fértil

    tatiana nascimento

    eu não sou
    virgem, nem santa, nem sou s
    agrada, mas tive o ventre
    livre feito terra farta pra
    feitura do mistério
    (ele está no meio de nós
    entre os lapsos, des
    compassos, dist
    ânsia & how
    dare you […]

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  • Menu da separação

    Priscila Obaci

    Quando a Mãe já não é o prato principal
    os filhos viram degustação de 15 em 15 dias. […]

    ler: Menu da separação
  • Ao For, Ria

    Priscila Obaci

    Quando eu for
    Não me mande notícias
    de seu choro
    Me deixe lá
    A culpa já me liga a cada minuto
    Inunda cada poro em lágrimas
    E leva qualquer marca de prazer […]

    ler: Ao For, Ria
  • as mãos trêmulas de elza seguraram o bebê que acabara de nascer. antes que o corpinho lambuzado de sangue e vérnix encostasse o chão de terra batida, ela aparou a criança e a encaixou no meio dos seios. o choro silencioso da mãe, entrecortado pelo choro recém-nascido da filha, ambos abafados pelos trovões […]

    ler: O segundo nome de nenê
  • uma dois

    Marina Farias

    gosto de brincar com miguel, pegá-lo no colo e fingir que estou ninando um bebê, apesar de o menino mais velho já estar beirando os onze anos. num dia, raul, o menino mais novo, que estava por perto, sorriu desconfiado ao ver a cena e veio correndo tentar se juntar a nós naquele aconchego. […]

    ler: uma dois
  • o pente de iara

    Marina Farias

    iara acordou com muito sono naquela manhã fria de terça-feira. ou seria quarta? a mente ainda embotada pela noite mal dormida não soube precisar o dia da semana. mas também, depois de mais de cem dias nesse enclausuro, todos os dias parecem o mesmo, pensou enquanto olhava o bebê dormindo ao seu lado na cama. […]

    ler: o pente de iara
  • Sobre morrer

    Luana de Oliveira

    Quantas vezes você já morreu? Minha vó costumava dizer que a gente que é pobre já nasce morrendo. Se for mulher então, aí é que fica pior: nasce culpada e morrendo. Eu cresci com isso martelando na minha cabeça. O que seria pior? A culpa ou a morte? Até hoje, não sei. Na primeira vez […]

    ler: Sobre morrer
  • A casa dorme, meu filho dorme. Sonha o meu filho? Alinho as palavras tortas na esperança de ver nascer um milagre para mulheres-meninas, mulheres-anciãs, mulheres-passarinhas. Cá dentro, inauguro um tempo infindo, de memória, benção para curar os olhos da guerra,
    Mamãe, Kiev também é aqui? […]

    ler: Poema para sonhar amanhã
  • Definir-se mãe em tempos de pandemia 

    Josinélia Chaves Moreira

    No dia 04 de julho de 2017, dois traços vermelhos me enunciavam Mãe. A palavra mãe, ainda em processo, ecoou, rasgou e feriu-me como uma navalha, enquanto tentava não acreditar no que via. Palavras pularam da minha cabeça, me olhando e insistindo em me penalizar, em me asfixiar: camisinha, pílula do dia seguinte, anticoncepcional – […]

    ler: Definir-se mãe em tempos de pandemia