[N.74 | 2023]

Falar o quê?

Débora Braun

Quando apenas balbucio, uso as palavras sem dominar completamente o seu sentido. Não sei nomear o que sinto. Luz e escuro, dia e noite, quente e frio, aberto e fechado, prazer e dor. Aprendo as diferenças entre as coisas, misturando-as. Preciso de alguém a meu lado quase o tempo todo, a me olhar, a segurar minhas mãos. Quando me vejo sozinha, choro. Choro porque quero comer e não consigo, porque quero dormir e não posso. Não sei me acalmar sozinha. Tenho muito medo. Mas às vezes rio descontroladamente, dou gargalhadas, sem saber por quê. Rio das coisas sem entender para que elas servem. E rio de mim mesma, porque fiz alguma coisa de que não sabia que era capaz, ou porque cresci de repente, sem tempo de descobrir quem eu era. Filha? Ou mãe?