[N.57 | 2023]

Línguamãe

Cacau Araújo e Gabriela do Amaral

Esta curadoria apresenta uma seleção de textos das participantes de oficinas de leitura e escrita da maternidade, realizadas entre 2021 e 2022, por nós, Cacau Araujo e Gabriela do Amaral, duo de mães artistas à frente do coletivo línguamãe. O que está aqui reunido foi publicado na coletânea “Te coloco onde você não está”, lançada em maio de 2022. A publicação digital buscou criar um espaço para acolher e promover mães escritoras, reafirmando o que acreditamos enquanto artistas e mães: é urgente ocupar os espaços e escrevê-los numa língua materna.

Desejamos que as pessoas leiam essas histórias, discutam e produzam a partir delas. Afinal, estamos todas escrevendo este livro juntas. Não são vozes separadas, somos um coro. Apesar de exaustas, seguimos escrevendo. O título da publicação foi gentilmente emprestado pela poeta carioca Danielle Magalhães, um verso de “Carta aos Gregos” do livro Vingar (Ed.7letras), onde ela diz: “eu escrevo a nossa história onde ela não está.” Foi o que pretendemos ao publicar esta coletânea com nossas alunas.

línguamãe nasceu em 2020, em meio à pandemia de COVID-19, no começo, nos posicionamos como uma Oficina de Escrita On-line. Este foi nosso primeiro passo para refletir e processar a maternidade: lendo autoras que escreviam sobre o tema e convocando alunas a ler junto, discutir e escrever sobre a maternidade em um grupo seguro e criando um espaço online, o possível naquele momento. A cada ciclo, percebemos que mais do que uma oficina, estávamos construindo um espaço, inaugurando uma comunidade, dando voz a questões muitas vezes silenciadas e não nomeadas. Passamos a enxergar a literatura relacionada à maternidade como uma expressão, uma forma de existir (e resistir). Passamos a enxergar imagens, filmes, exposições, entrevistas, outros grupos se formarem. Criamos alianças afetivas a partir de um lugar onde cuidado e criatividade muitas vezes se misturam e potencializam mutuamente.

O que entendemos hoje é que queremos continuar a construir espaços, apoiar a cura e a retomada de selfs, refletir a maternidade, o cuidado e a criatividade. E fazer os escritos (e demais expressões artísticas e criativas) de mães e mulheres circularem, serem lidos, tomarem outras posições na partilha. Esta curadoria no Projeto elas faz parte desse novo passo. Agora entendemos que somos um coletivo que investiga as intersecções entre o cuidado e outras práticas criativas e artísticas.