[ N. 158 | 2025]

 Neca: Romance em bajubá [fragmento]

Amara Moira

E assim eu perdi aquele saltinho líndio. Era pra gata tá acostumada, eu sei. Desde eréia, na roça, lavando calça de ocó, os que eu fazia e sujava (já que não tinha chuca), mas lá, pelo menos, era só a minha nena. Por que eu lavava? Ora, mãe é que eles não iam pedir… e os belezas, nunquinha que iam sujar a própria mão, isso lá é coisa de homem? Mas, também, nena era mais normal, ninguém ficava — nossa, meu Deus! Besouro, quando ia comer viado, sabia a lambuzeira de buesta fuerte que podia encontrar. E, se era um mais bonitinho, algum que eu gostava, aí eu fazia esse agrado. Porque eu gostava de dar, mas se, além de dar, depois eu podia ainda lavar a roupa que ele sujou comigo, afe, eu me sentia a própria esposa, a dona de casa cuidando do marido adorado. 

Como era besta, a gata se desdobrando pra agradar macho e eles se lixando — quanto mais eu fazia, mais me esnobavam. Eu aproveitava que ia lavar roupa e cuidava da de um ou outro. Porque, em casa, eu já lavava e não só a minha. Eu queria ser menina, então lavava, cuidava da casa, fazia comida, tudo melhor que as filhas meninas das vizinhas lá. Mamãe muito a contragosto deixava, vida puxada, aquela canseira sem fim, não era o que ela sonhou pro Simon. Mas desaquenda, o papo tá indo pra um caminho uó. A conversa era putaria e das brabas. 

Mulher, cê visse a anarquia que aquela criançada aprontava. É laranja que descabaçavam, é bananeira que eles abriam, na altura da bigolinha, um buraco e aí vão que vão, é galinha, é cachorra, é porca, é a jeguinha, a égua que eles botavam no toco (toco pra ficar na altura, sabe, ou então barranco, e as safadas quando acostumam, aí é só tê uma mão passando ali pelo rabo e elas já se ajeitam). E eu sei disso tudo por quê? Porque eu via, eles me mostravam. Sabiam que eu não contava, então me mostravam. Bando de sem-vergonha sem vergonha nenhuma do que faziam. E até tentavam me fazer fazer, mas eu já era bichinha demais, hora que começaram a descobrir minhas outras habilidades. As edilidades, per cosi dire. Que infância era essa, dio mio!