eu fui aquilo que jamais ousei. era algum lugar impreciso e o corpo sabia.
o começo do outro, o vazio daquela barriga impossível. eu já não fui. sentada numa cadeira vermelha da cor do sangue que ainda despenca entre as pernas, eu não sabia
que o sangue ainda permaneceria. eu fui o sangue.
minhas plaquetas estáveis quando me sento hoje nessa cadeira vermelha e naquele tempo de antes elas eram metade. não é possível ver o sangue saído de uma picada de inseto, não é possível crer que sua picada possa nos fazer cair pela metade e nem é possível prever quando o sinal vermelho dos médicos acende – pena e deboche.
eu era ontem distante do que fui quando não cheguei à temida sala de urgências. eu era água quente, muitas marés. eu fui lava.
eu não era mãe quando minha mãe caminhava decidida pela casa. meu pai quebrou a bacia enquanto eu não tocava meus pés no chão. ele não chorou e eu ontem inundava todos os móveis.
eu não fui ao parque no dia prometido nem deixei que a amiga que vive longe me visse naquele estado interessante. eu não sou interessante.
eu parei naquela esquina. o menino não – por desconhecer seu significado. o menino era o desconhecido.
eu era outra quando de mim uma água distinta anunciou o rompimento.
eu não senti dores na noite que antecedeu o começo da súplica.