[N.200 | 2025]

Poema do útero

Trudruá Dorrico

Eu não vim calma.
Eu vim rasgando o mundo
sem anestesia para aplacar
minha fúria de viver.

Cheguei ainda fraca –
No entanto pronta:
pro mato
pro mosquito
pra morte.

Cheguei precoce para dizer
que o tempo não começa
ele continua
nos pequeninhos dedos
pintados de jenipapo
adornados com dentinhos de proteção
no som do choro cuja chegança
neste mundo
cala e ecoa
conhecido antes do sonho, do desejo, da espera
e agora tornado pele, tornado boca, tornado gosto.

Eu vim – ela sempre vai continuar vindo
para andar no mundo livre

e transformada formiga
continuar continuar continuar continuar continuar continuar continuar continuar