[N.160 | 2025]

Sexo e desorganização [fragmento]

Jamieson Webster

Esta noite, minha filha e eu brincamos de sugar pontos do rosto uma da outra, meu queixo, a boquinha dela, minha bochecha, o pescoço dela. O prazer foi incrível, não só pelo prazer de sugar, o prazer dos lábios e da língua, mas também o joguinho, a troca furtiva de olhares, os ritmos se desdobrando e se desenvolvendo, a brincadeira de escolher onde, quando, com que força, e sempre a questão de quando parar. Estava tarde. Logo ela se cansou. Quando bebês têm sono, ficam mais desorganizados; como pontas soltas, as bordas de seus corpinhos se desfazem, e eles não sabem bem o que fazer de si mesmos. Às vezes, seus joelhos cedem e ela tomba. Nesse lugar de desorganização, muitas vezes ela faz algo muito especial, que com o tempo passou a me deixar maravilhada: ela inventa um jeito novo de se acalmar, de estender o prazer e cair no sono (sem dúvida, adentrando aquele espaço de desorganização miraculoso conhecido como vida onírica). É um pouco parecido quando pedimos a nossos pacientes que se deitam no divã: para se aproximarem disso. Essa noite, ela percebeu que podia não só sugar como também soprar, fazendo os ruídos mais mirabolantes e criando uma música que me fez rir até não poder mais. Meu riso lhe deu prazer, mas não mais do que ela já havia dado a si mesma. Sei disso porque, quando terminei de rir, ela continuou como se eu não estivesse lá, refinando seu instrumento, brincando com seu novo órgão, até adormecer.