línguamãe

  • O começo do outro

    Val Prochnow

    eu fui aquilo que jamais ousei. era algum lugar impreciso e o corpo sabia. o começo do outro, o vazio daquela barriga impossível. eu já não fui. sentada numa cadeira vermelha da cor do sangue que ainda despenca entre as pernas, eu não sabia
    que o sangue ainda permaneceria. eu fui o sangue. […]

  • Mármores

    Suzana Villaverde

    Um pai, uma avó, um avô, que não existem mais.
    Você, criança, de aniversário. Dois anos, pouquinho de tempo de vida, mais curto que sua dor mais recente. Na foto, sorrisos. […]

  • O que não estou escrevendo

    Marina F. Gonçalves

    Não estou escrevendo sobre as coisas incríveis que observo no desenvolvimento da linguagem e da comunicação com o mundo do Camilo. Que antes todas as peças de roupas eram blusas, agora só as meias são blusas e o restante é roupa. Se falo: vamos colocar uma meia? Ele abre a gaveta, pega as meias, olha […]

  • Beethoven

    Mariela Lamberti

    Domingo, pão de queijo, suco de laranja, 28 graus ainda de manhã, programa cultural: assistir à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Beethoven. Sair com um bebê sempre significa caos e organização. Mesmo se organizar direitinho, vai ser caótico em alguma medida. Sempre. […]

  • Carta sobre vó

    Marcela Helena Lopes

    trouxe um pouquinho de casa comigo. devorei tudo em dois dias. fui afoita, botando gomo após gomo de fruta após fruta na boca, acho que para ver se molhava um pouco por dentro. eu costumo ser muito cheia de água, mas percebo que estou secando. […]

  • Eu não estou escrevendo

    Maíra Tukui Ribeiro

    Eu não estou escrevendo um diário sobre o exílio espontâneo que realizei pela América do Sul, começando pela Amazônia. Este diário poderia ser uma etnobiografia, contando sobre meu encontro com Dona Mariana, uma pajé Macuxi, e meu batismo como Tukui. […]

  • Placenta

    Maíra K.

    teu filho gritando
    feliz
    teu filho
    de boca aberta
    é a primeira vez que ele vê
    o mar […]

  • Sempre gostei das idas à fazenda. Tinha um ar de aventura e liberdade. Íamos umas 12 crianças na caçamba da caminhonete. Lembro de ansiar esses momentos. As férias. Todos os anos, viajávamos para a cidade materna de minha mãe. Onde moro atualmente, que ironia. […]

  • Elisa precisa

    Laura Bettini

    As coisas não precisam de mim
    A arte
    A academia
    As letras
    A casa
    As lojas
    Os homens […]