mulher-negra

  • .: Do dentro do nosso quintal

    Do dentro do nosso quintal

    Fabiana Carneiro da Silva

    Dou um xêro na barriga e ganho um cafuné. Dengo bom que me distraiu e eu nem vi o passar do tempo, dois anos desde aquele dia em que me rasguei para recebê-la. Naqueles primeiros dias, minha menina se fazia urso em inverno. Hoje, somente uma soneca rápida ao longo do dia. […]

  • .: mãe/solo/fértil

    mãe/solo/fértil

    tatiana nascimento

    eu não sou
    virgem, nem santa, nem sou s
    agrada, mas tive o ventre
    livre feito terra farta pra
    feitura do mistério
    (ele está no meio de nós
    entre os lapsos, des
    compassos, dist
    ânsia & how
    dare you […]

  • .: Menu da separação

    Menu da separação

    Priscila Obaci

    Quando a Mãe já não é o prato principal
    os filhos viram degustação de 15 em 15 dias. […]

  • .: Ao For, Ria

    Ao For, Ria

    Priscila Obaci

    Quando eu for
    Não me mande notícias
    de seu choro
    Me deixe lá
    A culpa já me liga a cada minuto
    Inunda cada poro em lágrimas
    E leva qualquer marca de prazer […]

  • .: O segundo nome de nenê

    as mãos trêmulas de elza seguraram o bebê que acabara de nascer. antes que o corpinho lambuzado de sangue e vérnix encostasse o chão de terra batida, ela aparou a criança e a encaixou no meio dos seios. o choro silencioso da mãe, entrecortado pelo choro recém-nascido da filha, ambos abafados pelos trovões […]

  • .: uma dois

    uma dois

    Marina Farias

    gosto de brincar com miguel, pegá-lo no colo e fingir que estou ninando um bebê, apesar de o menino mais velho já estar beirando os onze anos. num dia, raul, o menino mais novo, que estava por perto, sorriu desconfiado ao ver a cena e veio correndo tentar se juntar a nós naquele aconchego. […]

  • .: o pente de iara

    o pente de iara

    Marina Farias

    iara acordou com muito sono naquela manhã fria de terça-feira. ou seria quarta? a mente ainda embotada pela noite mal dormida não soube precisar o dia da semana. mas também, depois de mais de cem dias nesse enclausuro, todos os dias parecem o mesmo, pensou enquanto olhava o bebê dormindo ao seu lado na cama. […]

  • .: Sobre morrer

    Sobre morrer

    Luana de Oliveira

    Quantas vezes você já morreu? Minha vó costumava dizer que a gente que é pobre já nasce morrendo. Se for mulher então, aí é que fica pior: nasce culpada e morrendo. Eu cresci com isso martelando na minha cabeça. O que seria pior? A culpa ou a morte? Até hoje, não sei. Na primeira vez […]

  • .: Poema para sonhar amanhã

    A casa dorme, meu filho dorme. Sonha o meu filho? Alinho as palavras tortas na esperança de ver nascer um milagre para mulheres-meninas, mulheres-anciãs, mulheres-passarinhas. Cá dentro, inauguro um tempo infindo, de memória, benção para curar os olhos da guerra,
    Mamãe, Kiev também é aqui? […]