[ arquivo ]
mulher-negra
-
.: Definir-se mãe em tempos de pandemia
Definir-se mãe em tempos de pandemia
Josinélia Chaves MoreiraNo dia 04 de julho de 2017, dois traços vermelhos me enunciavam Mãe. A palavra mãe, ainda em processo, ecoou, rasgou e feriu-me como uma navalha, enquanto tentava não acreditar no que via. Palavras pularam da minha cabeça, me olhando e insistindo em me penalizar, em me asfixiar: camisinha, pílula do dia seguinte, anticoncepcional – […]
-
.: Relicário
Relicário
Hildália FernandesAntes de tudo, deixe-me apresentar-me. Sou a duquesa Labalábá. O nome herdei da bisa e faz referência e presta reverência à Ọya que rege e protege a minha família desde tempos muito antigos, ainda no continente africano. Dela herdamos, também, a coragem, a ousadia, a independência e o trato com a morte. Somos mulheres-búfalo. […]
-
.: Da dor e do amor
Da dor e do amor
Dulci LimaNascemos. Em abril de 2013, minha filha e eu nascemos, ela para o mundo e eu como mãe. Nunca almejei ser mãe, não sonhei ter filhos. Gostava mais das brincadeiras de rua e de professora do que de bonecas. Amava mesmo os livros!
Minha filha foi um acontecimento inesperado, resultado de um amor não correspondido […] -
.: Canções puerperais
Canções puerperais
Daisy Serenaeu queria escrever uns versos pra matar o tempo, a saudade, a vontade. pra saciar a sede, o desespero, a febre, o silêncio. eu queria escrever umas palavras ainda que soltas, qualquer coisa que me lembrasse que eu ainda tô aqui, aqui, aqui dentro, como eu tô fora, fervendo.
mas meu filho acordou dez vezes […] -
.: A ira da filha de cam continua
A ira da filha de cam continua
Daisy SerenaA ira da filha de cam
parece perda de palavra
que
mucama
num é quem ama
é qual a
mulata
bicho que se quer
domesticado […] -
.: [O relógio…]
[O relógio…]
Barbara UilaO relógio
seguindo passos de
antes –
sufocou feridas.
Pedaços da renda da
toalha de mesa embranquecendo
o assunto do almoço
o vai e vem de panelas fumegantes
pra embalar uma fome ancestral […] -
.: Do desfiar ao tecer – Manto materno
Do desfiar ao tecer – Manto materno
Assunção de Maria Sousa e SilvaMinha avó Salu tinha um ofício cuidadoso. Quando menina, trabalhava no roçado: roçava, semeava, colhia, quebrava coco… Quando jovem, casou-se, teve cinco filhos e, com a reviravolta do tempo, ficou viúva e voltou à roça para sustentar os filhos, à mesma labuta na agricultura e pecuária […]
-
.: Eu carrego tudo o que sou pelo meu ventre
Eu carrego tudo o que sou pelo meu ventre
Analu CristinaToda a dor do passado
as sementes germinadas
no útero de minhas avós
nutridas com seu sangue
suas lágrimas e sua força
eu carrego
os frutos de sua carne
galhos
trilhas tortuosas
tronco firme também […]