[N. 147 | 2025]

Tipos de perturbação: ficções [fragmento]

Lydia Davis

Viajando com Mamãe

1.

Na frente do ônibus dizia “Buffalo”, afinal, e não “Cleveland”. A mochila era do Sierra Club, não da Audubon Society.

Tinham me dito que o ônibus com a placa “Cleveland” era o certo, apesar de que eu não estava indo para Cleveland.

2.

A mochila que eu trouxe era bem resistente, até mais do que o necessário.

Tinha ensaiado várias respostas caso me perguntassem o que havia na mochila. Ia dizer, “É areia para vasos de plantas” ou “É para uma almofada de aromaterapia”. Também teria dito a verdade. Mas eles não abriram a bagagem dessa vez.

3.

Na mala com rodinhas estava o recipiente de metal, bem embrulhado nas roupas. Aquela era agora a casa dela, ou sua cama.

Não queria colocá-la na mala com rodinhas. Achei que viajando nas minhas costas ela ficaria mais perto da minha cabeça.

4.

Esperamos o ônibus. Comi uma maçã tão velha que parecia uma maçã cozida, daquelas de fazer torta.

Não sei se ela ouviu, e também ficou irritada com a gravação, repetida a cada cinco minutos pelo alto-falante. O erro gramatical no início é o que a teria irritado: “Devidas a razões de segurança…”.

5.

Sair da cidade me pareceu tão definitivo que cheguei a pensar que precisaria trocar dinheiro no lugar para onde estávamos indo.

Antes, ela não conseguia sair de casa. Agora está em movimento.

6.

Faz tanto tempo que não viajamos juntas.

Há tantos lugares aonde podemos ir.