uma dois

gosto de brincar com miguel, pegá-lo no colo e fingir que estou ninando um bebê, apesar de o menino mais velho já estar beirando os onze anos. num dia, raul, o menino mais novo, que estava por perto, sorriu desconfiado ao ver a cena e veio correndo tentar se juntar a nós naquele aconchego. abraçada às duas pessoas que produzi dentro de mim e trouxe ao mundo, me senti tão forte quanto irresponsável. tive vontade de que os dois voltassem para minha barriga, num desejo profundo de que assim pudessem estar salvos das dores deste mundo, mas também para que eu voltasse a sentir a sensação maravilhosamente autocentrada de ser uma só. nesses poucos segundos de colo compartilhado, antes da mordida enciumada do menino mais novo no menino mais velho, e do grito choroso que precisei acolher, percebi que quem estava sendo ninada era eu.