• Queria escrever um email para meu filho de três anos. Não como correspondência para o futuro ou exercício de elaboração do turbilhão de emoções que ele me desperta. Meu desejo vem da aposta nas palavras escritas e lidas. Um êxtase em vislumbrar alguma legitimação, um ponto de encontro em nossos caos, mesmo sabendo que nunca haverá compreensão completa.

  • Quatro corpos

    Cris Moreira
    N.80 | 2023

    O meu corpo produziu, ao mesmo tempo, quatro rins, quatro pulmões, dois fígados, dois apêndices (que dizem não servir para mais nada, mas continuam sendo produzidos e exigindo uma imensa energia desse outro corpo que o produz).
    Durante 28 semanas, dois corações, além do meu, bateram no meu corpo.

  • Aprendendo todo dia a ser a mãe do meu filho

    Karine Vasconcelos
    N.79 | 2023

    Ser mãe é tarefa difícil. A sociedade impõe, cobra e julga o tempo todo as mães. Até parece que elas se autofecundam para gerar um filho. A maternidade pesa, derruba. Esse peso aumenta quando se trata da maternidade atípica.

  • Itemerários amores

    Eliane Marta Santos Teixeira Lopes
    N.78 | 2023

    … então, do casamento que era ainda muito amoroso, nasceu Rodrigo, em 13 de abril de 1975, por volta de sete da manhã. Mas tê-lo em meus braços, meus temerosos abraços, demorou. Era estranho, e familiar. Não tinha mais barriga e um bebê queria sugar meu peito.

  • Chorar como um bebê

    Flávia Péret
    N.77 | 2023

    Faltam poucas horas para o bebê nascer. São 22h52. Até aquele horário, você ainda não tinha sentido a primeira contração. Você estava relativamente calma. Próximo à meia-noite, você resolve se deitar um pouco, acreditando que faltariam ainda muitas horas pra ir pro hospital. O médico foi taxativo. Você só vai pra maternidade quando a dor ficar insuportável.

  • Pequenas erupções [fragmentos]

    Gabriela do Amaral
    N.76 | 2023

    pesquiso tantos símbolos
    as pirâmides ou a lógica do corpo na poesia
    pesquiso os cervos
    os planetas
    o que pode significar
    a estrela cadente na poesia amorosa

  • Gravilândia

    Patrícia Azevedo da Silva
    N.75 | 2023

    Quando engravidei, o mundo parou numa espécie de fricção de onde se soltaram uns pós e – earthseeds – caíram na terra.

  • Falar o quê?

    Débora Braun
    N.74 | 2023

    Quando apenas balbucio, uso as palavras sem dominar completamente o seu sentido. Não sei nomear o que sinto. Luz e escuro, dia e noite, quente e frio, aberto e fechado, prazer e dor.

  • Escrita de uma mãe em fúria [fragmento]

    Núria Manresa Camargos
    N.73| 2023

    Uma amiga da Rita enviou a ela um vídeo da sua gata parindo um filhote, e Rita me indagou sobre o pai. Toda família tem mãe e pai? Respondi que não.