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Quando apenas balbucio, uso as palavras sem dominar completamente o seu sentido. Não sei nomear o que sinto. Luz e escuro, dia e noite, quente e frio, aberto e fechado, prazer e dor.
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Uma amiga da Rita enviou a ela um vídeo da sua gata parindo um filhote, e Rita me indagou sobre o pai. Toda família tem mãe e pai? Respondi que não.
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A culpa
culpa pela culpa
culpa pela culpa da culpa -
Os olhos da bebê eram escuros, quase pretos, e, quando eu a amamentava de madrugada, ela olhava para mim de um jeito surpreso, náufrago, como se meu corpo fosse a ilha para onde ela tivesse sido arrastada.
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Minha mãe me ensinou a nadar e a remar. Ela nasceu na África do Sul, cresceu na “cidade dos ventos” de Porto Elizabeth e sentiu saudades do mar todos os dias das quatro décadas em que viveu na parte norte de Londres.
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eu fui aquilo que jamais ousei. era algum lugar impreciso e o corpo sabia.
o começo do outro, o vazio daquela barriga impossível. eu já não fui. sentada numa cadeira vermelha da cor do sangue que ainda despenca entre as pernas, eu não sabia
que o sangue ainda permaneceria. eu fui o sangue. -
Um pai, uma avó, um avô, que não existem mais.
Você, criança, de aniversário. Dois anos, pouquinho de tempo de vida, mais curto que sua dor mais recente. Na foto, sorrisos. -
Não estou escrevendo sobre as coisas incríveis que observo no desenvolvimento da linguagem e da comunicação com o mundo do Camilo. Que antes todas as peças de roupas eram blusas, agora só as meias são blusas e o restante é roupa. Se falo: vamos colocar uma meia? Ele abre a gaveta, pega as meias, olha para mim e diz: blusa.
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Domingo, pão de queijo, suco de laranja, 28 graus ainda de manhã, programa cultural: assistir à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Beethoven.
Sair com um bebê sempre significa caos e organização. Mesmo se organizar direitinho, vai ser caótico em alguma medida. Sempre.