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Não estou escrevendo sobre as coisas incríveis que observo no desenvolvimento da linguagem e da comunicação com o mundo do Camilo. Que antes todas as peças de roupas eram blusas, agora só as meias são blusas e o restante é roupa. Se falo: vamos colocar uma meia? Ele abre a gaveta, pega as meias, olha para mim e diz: blusa.
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Domingo, pão de queijo, suco de laranja, 28 graus ainda de manhã, programa cultural: assistir à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Beethoven.
Sair com um bebê sempre significa caos e organização. Mesmo se organizar direitinho, vai ser caótico em alguma medida. Sempre.
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trouxe um pouquinho de casa comigo. devorei tudo em dois dias. fui afoita, botando gomo após gomo de fruta após fruta na boca, acho que para ver se molhava um pouco por dentro. eu costumo ser muito cheia de água, mas percebo que estou secando.
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Eu não estou escrevendo um diário sobre o exílio espontâneo que realizei pela América do Sul, começando pela Amazônia. Este diário poderia ser uma etnobiografia, contando sobre meu encontro com Dona Mariana, uma pajé Macuxi, e meu batismo como Tukui.
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teu filho gritando
feliz
teu filho
de boca aberta
é a primeira vez que ele vê
o mar -
Sempre gostei das idas à fazenda. Tinha um ar de aventura e liberdade. Íamos umas 12 crianças na caçamba da caminhonete. Lembro de ansiar esses momentos. As férias. Todos os anos, viajávamos para a cidade materna de minha mãe. Onde moro atualmente, que ironia.
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As coisas não precisam de mim
A arte
A academia
As letras
A casa
As lojas
Os homens -
me, Sereno. Que eu chamo baixinho enquanto deixo a água cair barulhenta sobre a barriga redonda e imensa. Barriga-casa. Corpo-mãe. Teus chutes inesperados enquanto meu sono chega. O estômago esmagado, tentando digerir a janta e os dias – essa contagem regressiva que tantas vezes me apavora.
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Procura-se por um par de ouvidos, que seja capaz de escutar no silêncio.
Que entenda que a escuta é mágica para organizar a alma de quem fala.
Que saiba que não é para escapar, que é preciso encarar.